Frio em São Paulo e a Engenharia do Conforto

O Desafio do Frio em São Paulo e a Engenharia do Conforto

Hoje estava em casa e lá fora fazia muito frio em São Paulo, mas comecei a refletir, pois dentro de casa estava muito frio também. Achei curioso afinal, estar dentro de casa deveria ser sinônimo de abrigo, proteção, e aí me peguei pensando: por que nossas casas não nos protegem do clima? Será que estamos construindo de forma inteligente para os tempos que vivemos hoje com as mudanças do clima?

Por que sentimos tanto frio (ou calor) dentro de casa?

Grande parte das construções brasileiras foi feita com foco apenas na estrutura e na estética. Isolamento térmico? Raramente entra como prioridade. Isso acontece principalmente em residências de alvenaria convencional, que não têm camadas térmicas entre as paredes e, muitas vezes, também falham no telhado e nas janelas.

Na prática, vivemos em caixas de concreto que esquentam demais no verão e gelam no inverno. E quem paga a conta é o nosso conforto (e também a conta de luz, com o uso excessivo de aquecedores e ar-condicionado).

Soluções na Construção Nova: Wood Frame e Concreto Celular

A boa notícia é que os modelos construtivos mais modernos já resolvem parte desse problema com eficiência. Dois exemplos que valem conhecer:

Wood Frame e Steel Frame

Sistemas industrializados que usam estruturas de madeira ou aço leve, combinadas com camadas de isolamento térmico e acústico.
Principais vantagens:

• Conforto térmico superior

• Execução mais rápida e limpa

• Menos resíduos na obra

• Sustentabilidade e eficiência energética

Concreto Celular Autoclavado (CCA)

Também chamado de bloco de concreto aerado, esse material tem microbolhas de ar em sua estrutura que funcionam como isolantes naturais.
Por que ele funciona tão bem?

• Reduz a troca de calor entre ambientes

• É leve e fácil de cortar e aplicar

• Diminui o uso de argamassa

• Ajuda a cumprir a NBR 15575 (desempenho térmico de edificações)

E o que fazer com as casas antigas? A Arte do Retrofit Térmico

Nem todo mundo vai construir do zero, claro. Muitas vezes, a solução está em adaptar o que já existe e é aí que entra o retrofit térmico, uma técnica de melhoria que traz conforto sem grandes demolições.

Soluções simples e eficazes:

• Mantas térmicas no telhado: refletem o calor no verão e mantêm a temperatura no inverno.

• Forros com isolante térmico: melhoram o desempenho da cobertura sem interferir na estrutura.

• Isolamento em paredes internas: uso de placas ou mantas que podem ser aplicadas sem quebrar tudo, utilizando placas ou mantas, essa abordagem de retrofit térmico evita grandes obras, minimizando o impacto na rotina dos ocupantes, é uma solução prática para otimizar o desempenho térmico de ambientes, sem a necessidade de intervenções externas complexas ou estruturais, sendo ideal para residências em São Paulo ou qualquer outra cidade do Brasil.

  Entre os materiais, as placas de Poliestireno Expandido (EPS) são leves, fáceis de cortar e instalar, com boa capacidade isolante e custo acessível. Elas são coladas diretamente na parede e depois revestidas para o acabamento final. Já as Lãs de Rocha ou Vidro, em placas ou mantas, oferecem isolamento térmico e acústico superiores, além de serem incombustíveis.

  A aplicação das lãs minerais geralmente envolve a fixação em uma estrutura leve, como drywall, criando uma câmara de ar isolante. Essa técnica pode reduzir ligeiramente a área útil, mas garante um alto desempenho, é fundamental escolher o material que melhor se adapta às necessidades específicas do projeto, considerando custo e eficiência desejada.

  As placas de Poliuretano (PU) destacam-se por seu excelente coeficiente de condutividade térmica, permitindo alta eficiência com menor espessura. Sua aplicação é similar à do EPS, com colagem direta e posterior revestimento. As mantas refletivas, mais comuns em telhados, também podem ser usadas em paredes, refletindo o calor radiante para controle térmico.

  Por fim, as tintas térmicas/cerâmicas, aplicadas como tintas comuns, contêm microesferas isolantes, elas oferecem um ganho mais modesto de desempenho, mas são a opção menos invasiva e mais simples, podem ser uma excelente complementação ou uma solução para casos onde outras intervenções são inviáveis, proporcionando um isolamento leve e eficiente.

  Menor invasão na estrutura e rapidez na aplicação, tornando o processo mais ágil e menos disruptivo. Além disso, tende a ser mais econômico do que soluções externas, permitindo um controle eficaz do clima em ambientes específicos, uma alternativa valiosa para quem busca conforto térmico sem grandes reformas.

  Contudo em toda via é crucial considerar alguns pontos importantes, deve-se atentar às pontes térmicas, que podem comprometer a eficácia do sistema, e garantir que a parede esteja seca e livre de umidade antes da aplicação, a espessura do material isolante e a ventilação adequada do ambiente são fundamentais para evitar condensação e mofo, assegurando a durabilidade da solução.

• Janelas com vidro duplo ou películas térmicas: reduzem a perda de calor e entrada de radiação solar.

• Pisos mais quentes: revestimentos vinílicos, madeira ou até tapetes térmicos ajudam bastante no inverno.

Checklist prático para saber se sua casa pode se beneficiar do retrofit térmico:

• Sua casa é muito quente no verão e muito fria no inverno?

• Você sente corrente de ar perto de portas e janelas?

• O telhado tem algum tipo de proteção térmica?

• As paredes externas recebem sol direto o dia todo?

• O uso de ventiladores ou aquecedores é constante?

Se você respondeu "sim" para a maioria das perguntas, vale conversar com um engenheiro civil ou arquiteto sobre as possibilidades de retrofit, muitas soluções têm baixo custo, podem ser feitas por etapas e melhoram muito o conforto no dia a dia.

Conforto é investimento, não luxo

Pensar em desempenho térmico não é frescura é uma escolha inteligente que melhora a saúde, reduz gastos com energia e aumenta o valor do imóvel, em tempos de mudanças climáticas, repensar como construímos (e habitamos) nossos espaços se tornou essencial, no fim das contas, estar em casa deveria ser sinônimo de abrigo real e isso começa com uma construção pensada para proteger, não apenas para abrigar.